Editorial: A alegria e o calor dos foliões aquecem a economia no Carnaval
Carnaval pode até ser uma grande brincadeira para os milhões de pessoas que lotam ruas, avenidas e sambódromos Brasil afora. Mas, para muitos setores da economia, o momento é bom mesmo para faturar e a verdadeira folia só vem bem depois, com a contabilidade de números positivos. A Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) estima que a maior festa popular do planeta deve movimentar este ano R$ 6,78 bilhões em todo País, o que significa uma alta de 2% em relação a 2018. Para setores como hotelaria, alimentação e transporte, por exemplo, Carnaval poderia durar o ano inteiro, pois são os que mais se beneficiam, sendo responsáveis por quase 85% de toda movimentação financeira decorrente da festa.
E São Paulo não tem feito feio neste quesito. A Capital tirou o “monopólio” da festa do sambódromo do Anhembi e investiu em um novo filão, que é a celebração de rua. E os frutos não tardaram a aparecer. Este ano terá mais uma vez recorde de blocos carnavalescos, que puxarão multidões pelos tradicionais circuitos paulistanos. Eles não só caíram de modo irreversível no gosto do folião local como também têm atraído turistas para a cidade. E o primeiro setor a sentir o impacto é o hoteleiro. Enquanto no ano passado, a ocupação dos hotéis ficou em 45% de todas as vagas oferecidas, este ano, deve passar de 50% (no Rio, as reservas atingiram 88%). Isso significa mais emprego para profissionais como garçons, arrumadeiras, ajudantes e muito mais.
Assim, aquela que na década de 1960, foi chamada por Vinícius de Moraes de “o túmulo do samba” dá a volta por cima e puxa para o alto os números do Estado paulista, que já rivaliza com o do Rio de Janeiro em termos de faturamento com a festa. Neste quesito, os fluminenses ainda lideram. A previsão para 2019 é que angariem R$ 2,1 bilhões por conta do Carnaval. Já São Paulo, deve faturar R$ 1,9 bilhão, no entanto, vem crescendo mais que o vizinho. E a boa notícia é que ainda tem muito a avançar e, se trabalhar bem, tem tudo para oferecer um produto ainda mais rentável. Os foliões agradecem. A economia mais ainda.
Projeção para inflação é de 3,08% este ano
O mercado financeiro manteve a projeção para a inflação este ano. A estimativa para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) segue em 3,08%, de acordo com o boletim Focus, publicação divulgada no site do Banco Central (BC) todas as semanas, com projeções para os principais indicadores econômicos.
Para 2018, a estimativa para o IPCA é mantida em 4,02% há quatro semanas consecutivas. As projeções para 2017 e 2018 permanecem abaixo do centro da meta de 4,5%, que deve ser perseguida pelo BC. Essa meta tem ainda um intervalo de tolerância entre 3% e 6%.
Para alcançar a meta, o BC usa como principal instrumento a taxa básica de juros, a Selic, atualmente em 7,5% ao ano. A expectativa do mercado financeiro para a Selic ao final de 2017 e de 2018 segue em 7% ao ano.
A estimativa para a expansão do Produto Interno Bruto (PIB), a soma de todos os bens e serviços produzidos no País, foi mantida em 0,73% este ano, e em 2,5% para 2018.
Carnaval vai injetar R$ 500 milhões na capital paulista
Muitos dizem que o ano só começa depois do Carnaval, mas o que muitos não sabem é que, mesmo na Capital, o evento é responsável por movimentar milhões na economia. Este ano, segundo a São Paulo Turismo (SPTuris), as atrações do Sambódromo e do Carnaval de Rua devem movimentar R$ 500 milhões na cidade.
No ano passado, a festa injetou R$ 464 milhões, o que mostra uma espectativa de crescimento de 8% para 2018. Segundo a jornalista Bruna Antunes, que acompanha os blocos desde 2016, muita coisa mudou no Carnaval. Ela e o noivo Shelton Chagas estão em fase de economia para o casamento, portanto, vão curtir as atrações locais. “A gente aproveita para reunir os amigos e conhecer artistas que fazem poucos shows gratuitos, como é o caso do Alceu Valença e da Elba Ramalho”, contou.
Levantamento do Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) e da Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL), aponta que cada brasileiro gasta, em média, R$ 847,35, valor que sobe para R$ 969,10 entre os homens e para R$ 1.185,42 entre as pessoas das classes A e B.
“É necessário estabelecer um limite para os gastos e planejá-los com antecedência”, orientou o educador financeiro José Vignoli.
SP registra 5,1 milhões de pessoas no Carnaval
O Carnaval de Rua de São Paulo reuniu cerca de 5,1 milhões de pessoas nos quatro dias de feriado. A soma inclui o público dos blocos de rua, dos palcos e dos desfiles das escolas de samba no Anhembi.
O balanço do Carnaval foi divulgado, na quarta-feira, 14, pela Prefeitura de São Paulo.
Ele mostra que de sábado, 10, a terça-feira, 13, foram 180 desfiles de blocos de rua na Capital. Somente a Avenida 23 de Maio, de domingo, 11, a terça, concentrou mais da metade do público do Carnaval de Rua: 2,6 milhões de foliões passaram pela avenida. No local, ocorreram sete desfiles.
Apesar do sucesso de público, o Carnaval na Avenida 23 de Maio registrou problemas. Uma das maiores queixas de foliões e moradores dos bairros próximos foi a quantidade de pessoas urinando, vomitando ou consumindo drogas nas ruas.
(Crédito: Luiz Guadagnoli/SecomPMSP)
Fiscalização
A lateral do Centro Cultural São Paulo, de frente para a 23, virou o ponto favorito para o xixi. Desde o dia 3, foram autuadas 396 pessoas urinando na rua. Segundo a Prefeitura, havia 580 banheiros públicos, mas os foliões reclamaram de filas.
Enfermeiras contaram que foliões tentaram forçar a entrada em hospitais da região para tentar usar os banheiros. No Hospital Sancta Maggiore, no Paraíso, meninas passaram a gritar e xingar, depois que foram impedidas de entrar pelos seguranças. Famílias de pacientes reclamaram de barulho e houve atraso na movimentação de ambulâncias.
O período oficial do Carnaval é de 3 a 18 de fevereiro, com previsão de 491 desfiles na cidade. No próximo fim de semana, estão previstos mais 104 desfiles. Segundo números da Prefeitura, somente no final de semana de pré-carnaval o público foi de 4 milhões.
Oito escolas de samba fazem o Desfile das Campeãs de São Paulo nesta sexta-feira
A escola de samba campeã do carnaval de São Paulo, Acadêmicos do Tatuapé, desfila novamente no Sambódromo do Anhembi, nesta sexta-feira (16), em apresentação que começa a partir das 21h. Além da primeira colocada, mais quatro escolas do Grupo Especial e três do Grupo de Acesso 2 e Grupo de Acesso voltam ao sambódromo. A campeã, da zona leste, entra na avenida às 4h da madrugada.
Quem abre o desfile das campeãs é a vencedora do Grupo de Acesso 2, Mocidade Unida da Mooca. A segunda a se apresentar é a Colorado do Brás, vice-campeã do Grupo de Acesso, seguida pela campeã da categoria, a Águia de Ouro. Em seguida, vêm as cinco primeiras colocadas do Especial: Dragões da Real, Tom Maior, Mancha Verde, Mocidade Alegre e Acadêmicos do Tatuapé.
Com seu azul e branco, a Acadêmicos do Tatuapé ficou com os mesmos 270 pontos de Mocidade Alegre, Mancha Verde e Tom Maior, mas teve melhor pontuação no quesito de desempate mestre-sala e porta-bandeira. Assinado pelo carnavalesco Wagner Santos, o desfile da Acadêmicos do Tatuapé exaltou as belezas do Maranhão, com o samba enredo Maranhão. Os Tambores vão ecoar na terra da encantaria, entoado por seus 2.761 mil componentes.
A vice-campeã Mocidade Alegre retorna com o samba A voz marrom que não deixa o samba morrer, que homenageou a cantora Alcione. Com 70 anos de vida e 45 de carreira, Alcione deu a introdução para o grito de guerra no começo do desfile e depois subiu no carro em que foi destaque, o último do cinco da noite. O samba e as fantasias da agremiação citaram músicas conhecidas da cantora: Juízo final, O que eu faço amanhã, À flor da pele, Delírios de amor e principalmente Não deixe o samba morrer, que foi a base do refrão.
A terceira colocada, Mancha Verde, volta à passarela com o samba A amizade. A Mancha agradece do Fundo Do Nosso Quintal, que homenageou os 40 anos de história do grupo Fundo de Quintal. A Tom Maior, última a entrar na avenida no primeiro dia dos desfiles, repete a exibição que a colocou em quarto lugar com o enredo O Brasil de duas Imperatrizes: De Viena para o novo mundo, Carolina Josefa Leopoldina; de Ramos, Imperatriz Leopoldinense. Com o samba enredo Minha música, minha raiz! Abram a porteira para essa gente caipira e feliz! também se apresenta a quinta colocada, Dragões da Real, que falou da música caipira e sertaneja.
Ainda desfila a Águias de Ouro, rebaixada para o Grupo de Acesso em 2017, divisão que não disputava desde 2009. A escola volta para o Grupo Especial depois de apresentar um desfile com o tema Mercadores de Sonhos, que falou sobre as influências árabes no Brasil e em São Paulo. A segunda colocada, Colorado do Brás, mostra o samba Axé – Caminhos que levam à Fé, e sobe para o Grupo Especial depois de quase alcançar o posto em 2017, quando ficou em terceiro lugar e perdeu a chance por 0,1 ponto. A vencedora do Grupo de Acesso 2, Mocidade Unida da Mooca, entra com o enredo A Santíssima Trindade de Oyó, que propagou a mensagem de tolerância entre os povos. No ano que vem, a escola disputará o título no Grupo de Acesso.
Os ingressos estão à venda na bilheteria do Sambódromo e na loja da Liga SP na estação São Bento do Metrô. Os valores variam de acordo com o setor, com preços a partir de R$ 70. O horário de atendimento é das 10h às 20h no Sambódromo e das 10h às 19h na estação São Bento do metrô.
Programação:
21:00 – Mocidade Unida da Mooca (Campeã do Grupo de Acesso 2)
22h00: Colorado do Brás (2ª lugar no Grupo de Acesso)
23h00: Águia de Ouro (Campeã do Grupo de Acesso)
00h00: Dragões da Real (5º lugar no Grupo Especial)
01h00: Tom Maior (4º lugar no Grupo Especial)
02h00: Mancha Verde (3º lugar no Grupo Especial)
03h00: Mocidade Alegre (Vice-campeã do Grupo Especial)
04h00: Acadêmicos do Tatuapé (Campeã do Grupo Especial)
Horário de verão acaba à meia-noite deste domingo
A partir da meia-noite de domingo, 11, os paulistas devem atrasar seus relógios em uma hora para se adaptar ao fim do horário do verão. Vale ressaltar que como o cidadão ganhará uma hora a mais para descansar, não vale usar a desculpa que confundiu o horário de verão e chegou atrasado, alertou o advogado Eli Alves da Silva, presidente da Comissão de Direito Material da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) da seção São Paulo.
“Já quem estiver trabalhando deve seguir a carga horária normal. Se for preciso continuar além do horário por conta da mudança no relógio o empregador terá que pagar a hora extra de trabalho”, explicou o advogado.
O horário de verão é uma maneira que o governo encontrou para reduzir o consumo de energia, mas que tem apresentado resultados menores a cada ano. Em 2013, o Brasil, economizou R$ 405 milhões, ou 2.565 megawatts (MW) com ação. Em 2014 foram para R$ 278 milhões (2.035 MW) e, em 2015 caiu ainda mais, para R$ 162 milhões. Em 2016, o valor sofreu nova queda, para R$147,5 milhões.
Toca do Lobo – O Carnaval de Marceleza
De um lado os blocos gourmets de coachs empresariais ou a turma de carnavalescos engajados e politicamente corretos. Do outro, propagandas de cerveja, sem mulher de bikini porque não é moral, mas com uma quantidade imoral de milho transgênico dentro da bebida.
Para não ser esmagado pelo trem da hipocrisia do Carnaval, eis que, ouvindo um bom disco de Genival Lacerda ou Jerry Lee Lewis, embalado por whisky isento de “cereais não maltados” e discursos progressistas, está Marcelo Nova.
O homem que reinventou o rock no Brasil abusando da ironia e inclusão de palavrões na canção, inspirado pela arte marginal do bendito maldito Plínio Marcos, acaba de lançar sua biografia, que merece ser conferida por qualquer pessoa que tenha vivido a época em que jovens queriam se manifestar e não “lacrar”.
O Camisa de Vênus vem de um tempo em que artistas eram idolatrados pela arte que produziam e não por quem levavam para a cama. Ninguém era cultuado apenas por ser gay, e nem tão pouco ignorado por isto. Era uma época em que o do it yourself estava em voga, desde que Sex Pistols havia ensinado que não era preciso ser nenhum virtuoso no instrumento para se ter atitude ou contar uma boa história.
Marcelo nasceu na terra de Raul Seixas, nosso híbrido de Elvis com Luiz Gonzaga, transgressor nato do stablishment “ouro de tolo” e inspiração de Marcelo, quando este, ainda jovem, assistiu a Raulzito e seus Panteras. Décadas depois, o fã e amigo resgatou Raul de volta ao espaço do qual nunca deveria ter saído: os palcos.
O eloquente líder da maior banda de rock dos anos 1980 transgrediu todas as regras do mercado e, com letras que misturavam poesia, ironia e palavrão, atingiu o topo do sucesso.
Com 40 anos de carreira, o baiano, já paulistano, vive na Zona Sul em um verdadeiro museu do rock. Ouso dizer o mais completo da cidade. Milhares de vinis e CDs dos principais nomes do rock, do blues e do jazz, se misturam a uma videoteca invejável e muita memorabilia, entre elas um cheque de R$ 1,80 referente ao percentual de apenas um disco vendido, de acordo com a sua gravadora.
Com 200 canções gravadas e mais de 20 álbuns, todos com o mais autêntico rock and roll, uma proeza no país do axé e do sertanejo, Marcelo já emprestou sua guitarra para Chucky Berry tocar em SP, já que é notório que o pai do rock viajava para turnês sem instrumentos ou banda. Eric Burdon, líder do Animals, gravou com o Camisa uma versão de um dos clássicos de sua banda. A lenda inglesa do rock ainda incluiu em um álbum solo duas canções do disco A Sessão sem Fim de Marcelo, e compôs uma nova em parceria com o músico.
Galope do Tempo, escrito por André Barcinski, é a edição de anos de conversas que vão de assuntos como família até histórias de sucesso e decepções que o rock e sucesso proporcionaram.
Como diria Oscar Wilde: “Pouca sinceridade é uma coisa perigosa, e muita sinceridade é absolutamente fatal.” Marcelo, para alegria dos leitores, faz jus à frase e paga o preço sem reclamar.
Niilista, não vota há 30 anos e garante que já viu o futuro e ele é passado. Na estreita e pedregosa passarela do rock, abram alas ao rei da ironia e mestre-sala da poesia, o general da banda, Marcelo Nova.