Estado tem 96 barragens com risco de colapso
O Estado de São Paulo tem 96 barragens com risco de colapso, de acordo com o último Relatório de Segurança de Barragens (RSB), elaborado pela Agência Nacional de Águas (ANA) em 2017. Destas, 89% são hidrelétricas, que geram energia a partir da movimentação de água. Considerando risco médio ou alto, são 12 registros no documento (duas com risco alto e o restante com médio).
De acordo com o engenheiro Paulo Afonso Luz, professor do Mackenzie e especializado em Geotecnia, apesar de esta ameaça existir, é muito mais difícil ver uma hidrelétrica romper. “Este equipamento é como a galinha dos ovos de ouro da empresa. Elas normalmente cuidam muito mais, porque é dali que tiram seu sustento”, disse.
Por isso, casos como o rompimento da barragem de rejeitos de minério, administrada pela Vale, em Brumadinho (MG), ocorrido na semana retrasada, são mais comuns. “Os rejeitos não são a obra-prima de uma mineradora. É um espaço em que eles depositam o resto, o que sobrou da mineração. Portanto, infelizmente, acabam deixando o monitoramento de lado”, explicou o especialista.
Segundo a bióloga Natália Barom, professora da UNG e consultora ambiental, as mineradoras despejam seus rejeitos em barragens porque este processo é mais barato. No entanto, já há métodos de descarte menos danosos ao meio ambiente. “Cabe a nós, cidadãos, e aos órgãos públicos pressionarmos as empresas para que elas não analisem apenas a viabilidade econômica, mas que elas também levem em consideração a segurança da população, de uma cidade inteira”, destacou.
Ainda de acordo com Natália, em outros países, há áreas de contenção de rejeitos, entre os rios e as barragens, justamente, para evitar desastres como o de Brumadinho. “Estas áreas são importantes para resguardar a sociedade como um todo”. A especialista também afirmou que, no Brasil, não conseguimos “acabar” com as barragens “do dia para a noite”.
“O que podemos fazer hoje é corrigir as ações de prevenção. Não conseguimos eliminar as barragens, mas poderíamos aproveitar o material sólido que fica acumulado para uma utilização ambiental mais adequada. Ele poderia ser empregado na construção civil ou até mesmo reciclado”, exemplificou.
Contenção de rejeitos de minério também traz risco à Capital
O relatório da ANA mostra que duas barragens, ambas de contenção de rejeitos de minério, estão localizadas na cidade de São Paulo, no bairro de Perus, Zona Norte da Capital. A fiscalização é da Agência Nacional de Mineração. A primeira, de risco baixo, serve à Pedreira Juruaçu e é administrada pela Embu Engenharia e Comércio. O dano potencial associado, caso ela se rompa, é alto.
À reportagem, a Embu informou que “a operação e a manutenção dessa estrutura são feitas de acordo com as exigências legais e técnicas estabelecidas na Política Nacional de Segurança de Barragens” e que “o monitoramento da barragem se dá com instrumentação, vistorias e análises interpretativas dos dados”.
A outra barragem localizada na Capital é a de Clarificação, administrada pela Territorial São Paulo Mineração. O risco de colapso é médio e o dano potencial associado é alto. Nem a empresa, nem a ANM responderam aos questionamentos do Metrô News.
Moradores de Perus não sabem o que fazer em caso de colapso
O comerciante Haffyler Sheldon, que possui duas lojas no bairro de Perus, afirmou ao Metrô News que não há qualquer treinamento para a vizinhança sobre como agir em caso de rompimento de alguma das barragens localizadas na região. “Em 2017, houve boatos de que estávamos correndo risco. Mas ninguém falou mais nada. As empresas nunca nos procuraram para dizer o que fazer em caso de um colapso. A gente fica vendo a situação de Brumadinho pela televisão e com muito medo do que pode acontecer aqui”, comentou o rapaz.
Ele disse não saber se há sirenes de alerta para que a vizinhança possa se proteger em caso de rompimento. Outra comerciante, em condição de anonimato, falou que se sente insegura no bairro. “Parece que estamos numa situação pré-desastre, porque ninguém aqui sabe como agir se algum problema acontecer”.
SP tem 66 barragens de mineração
No Estado, segundo a ANM, existem 66 barragens de mineração cadastradas. Na Grande São Paulo, são nove. Além das duas já citadas na Capital, há três em Santa Isabel, duas em Mogi das Cruzes, uma em Guararema e uma em São Lourenço da Serra.
A mineração de argila e granito é diferente da de ferro, como a que era realizada em Brumadinho, e oferece menos risco, segundo o engenheiro Paulo Afonso Luz. “A velocidade de mineração é muito mais baixa. Por isso, normalmente, o perigo só aumenta porque há uma possibilidade alta de dano ambiental”, explicou.
Confira quais são as barragens com risco de colapso na Capital
Nome da barragem
Finalidade
Bairro
Administração
Fiscalização
Risco
Dano
Clarificação
Contenção de rejeitos de minério
Perus
Territorial São Paulo Mineração
Agência Nacional de Mineração
Médio
Alto
Pedreira Juruaçu
Contenção de rejeitos de minério
Perus
Embu Engenharia e Comércio
Agência Nacional de Mineração
Baixo
Alto
Veja quais são as barragens com risco médio ou alto de rompimento no Estado
Nome da barragem
Finalidade
Local
Administração
Fiscalização
Risco
Dano
PCH Atibaia
Recreação
Atibaia
Consorcio Condomínio Empresarial Atibaia
Agência Nacional de Águas
Médio
Alto
Barragem Lago Hotel Bocaina
Recreação
Bananal
Nova Suíça Empreendimentos Turísticos e Hoteleiros
Agência Nacional de Águas
Médio
Alto
São Pedro
Hidrelétrica
Itu
Eletricidade São Pedro
Agência Nacional de Energia Elétrica
Médio
Alto
Americana
Hidrelétrica
Americana
Jayaditya Empreendimentos e Participaçõe
Agência Nacional de Energia Elétrica
Alto
Alto
Pirapora
Hidrelétrica
Santana de Parnaíba
Pirapora Energia
Agência Nacional de Energia Elétrica
Médio
Alto
Três Irmãos
Hidrelétrica
Andradina
Tijoa Participações e Investimentos
Agência Nacional de Energia Elétrica
Médio
Alto
Paranapanema
Hidrelétrica
Piraju
Enel Green Power Paranapanema
Agência Nacional de Energia Elétrica
Médio
Alto
Salesópolis
Hidrelétrica
Salesópolis
Fundação Patrimônio Histórico da Energia de São Paulo
Agência Nacional de Energia Elétrica
Médio
Alto
São Valentim
Hidrelétrica
Santa Rita do Passa Quatro
Fundação Patrimônio Histórico da Energia de São Paulo
Agência Nacional de Energia Elétrica
Alto
Baixo
Henry Borden
Hidrelétrica
Cubatão
Empresa Metropolitana de Águas e Energia
Agência Nacional de Energia Elétrica
Médio
Alto
Ouro Branco Oeste
Contenção de rejeitos de minério
Salto de Pirapora
Mineração Ouro Branco Salto de Pirapora
Agência Nacional de Mineração
Médio
Alto
Clarificação
Contenção de rejeitos de minério
São Paulo
Territorial São Paulo Mineração
Agência Nacional de Mineração
Médio
Alto
Consequências podem atingir a economia brasileira
A tragédia de Brumadinho, além de proporcionar diversas mortes e uma crise ambiental na região, pode trazer consequências gravíssimas para a economia brasileira. Segundo a economista Cristiane Mancini, professora das Faculdades Rio Branco, a mineração brasileira representa 4,5% do Produto Interno Bruto e a produção de minério de ferro é 86% exportada, sendo o 2º produto brasileiro mais exportado, atrás apenas da soja. “A Vale é responsável por quase 74% dessa produção. É uma empresa de capital aberto, em que os investidores diariamente compram e vendem suas ações”, explicou a especialista.
A partir do momento em que uma empresa desta dimensão e importância é responsável por algum dano econômico, social ou ambiental, a confiança dos investidores é abalada. “Eles ficam receosos. O País todo perde credibilidade. É uma questão que ocorreu pela segunda vez, então é muito prejudicial, também, para a nossa economia”, falou.
No ano passado, pela primeira vez desde 2014, o País voltou a gerar empregos. Isso pode ser afetado pela tragédia, segundo a economista.
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