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sábado, novembro 23, 2024

Não preciso enxergar porta para saber que casa caiu, diz ex-diretor do Inpe

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Geral



O ex-diretor do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) Ricardo Galvão, exonerado no início do mês após uma série de ataques do governo federal à instituição e aos dados de desmatamento produzidos por ela, rebateu nesta sexta-feira, 16, as supostas vantagens do novo sistema de monitoramento que o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, disse pretender comprar.



A intenção foi anunciada por Salles no último sábado, em debate com Galvão na GloboNews. E reportagem publicada pelo jornal O Estado de S. Paulo nesta quinta-feira mostrou que o sistema já está sendo testado pelo Ibama.



“O ministro Ricardo Salles fala que agora vamos ter um sistema da empresa Planet para detectar desmatamento de 2 metros. Depois do debate eu disse: ministro, não se mede a distância Rio-São Paulo com uma régua de 10 centímetros. Uma árvore na Amazônia tem copa com diâmetro de 15, 20 metros. Para que eu preciso de uma resolução de dois metros para fazer um alerta de desmatamento? Eu só preciso de uma resolução de dois metros se eu quiser pagar muito mais para um sistema com maior resolução.”



Galvão fez as declarações durante palestra nesta sexta-feira no auditório da reitoria da USP, para onde ele volta após sua exoneração. O pesquisador é livre-docente do Instituto de Física da universidade e estava cedido ao Inpe.



Após a palestra, em conversa com jornalistas, ele voltou a comentar o assunto e disse que os dados oferecidos pelo Planet são muito mais do que o necessário para fazer os alertas de desmatamento, exatamente a função que tem o Deter, o sistema de detecção em tempo real do Inpe.



“Imagina que tenho uma câmera para ver o câmpus da USP e quero detectar pessoas com blusa vermelha. O campo de imagem é muito amplo. Se eu começar a olhar isso com um foco muito pequeno, eu vou demorar anos para varrer todo o câmpus”, explicou.



“Nosso sistema tem um campo mais aberto. Vejo imagens não muito focalizadas, mas detectamos onde tem desmatamento. Quando detectamos, podemos focalizar e ver melhor como é a área mesmo. O que a Planet está vendendo são imagens focalizadas. Mas imagine o tamanho da Amazônia. São 4 milhões de quilômetros quadrados na Amazônia Legal. Imagine olhar isso tudo com imagens de dois metros. Para quê?”, questionou.



“Não preciso enxergar a porta para saber que uma casa está sendo derrubada”, comparou. “O ministro está caindo no canto da sereia dos vendedores.”



Galvão comentou ainda os supostos erros que foram apresentados por Salles para indicar problemas no Deter em reunião com técnicos do Inpe e do Ibama e também o ministro da Ciência e Tecnologia, Marcos Pontes, em 31 de agosto dois dias antes de ele ser exonerado.



Ele disse que o Inpe solicitou duas vezes, por ofício, acesso aos dados para poder confrontá-los cientificamente com as informações do instituto, mas não foi atendido. “O ministro mostrou vários exemplos de dados errados. Ora, nós que somos físicos e trabalhamos em laboratório sabemos o que é dado e o que é erro. Se pega um monte de dados e existe uma margem de erro, eu posso pegar um dado errado e isso é normal”, explicou.



“Depois do encontro do painel da GloboNews, eu pedi os dados, disse que se ele quisesse melhorar o sistema, poderíamos comparar cientificamente, usando o nosso modelo. Ele falou: não posso dar, sabe por quê? Esse trabalho foi feito gratuitamente para nós pela Planet. Quer dizer que ele aceita um dado de uma empresa, gratuito, sem pagar, e depois apresenta como dados científicos?”, questionou Galvão.



Cerca de 200 pessoas lotaram o auditório e o aplaudiram calorosamente. Em vários momentos, ele se emocionou, mas manteve as falas fortes que o transformaram em uma espécie de herói da ciência brasileira depois que não se calou diante das críticas. O presidente Jair Bolsonaro disse mais de uma vez que os dados do Inpe são “mentirosos” e chegou a acusar Galvão de estar “a serviço de alguma ONG”. O pesquisador reagiu e em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo disse que a atitude do presidente era “pusilânime e covarde”.



“Sempre que a ciência for atacada temos de nos levantar. As autoridades sempre se incomodam quando escutam o que não querem”, disse lembrando problemas que o Inpe teve com outros governos. “Mas será que esse seria um momento de volta às trevas?”, questionou em referência à ditadura. Ele mesmo sentenciou: “Não. Porque a comunidade acadêmica e científica e o povo brasileiro não se calarão.”



Galvão, porém, rejeitou a ideia de ser herói. “Não usem a palavra herói ou mito. Não existe salvador da pátria.”

 





Doria articula com DEM para disputar o governo do Estado de São Paulo (Foto: Reprodução/Rede Social)


Política

Doria negocia com DEM, mas ala tucana tenta impedir candidatura

Após se aproximar do PSD, o prefeito João Doria investe agora no apoio do DEM para uma eventual candidatura pelo PSDB ao governo de São Paulo. A negociação partidária, que envolve o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e o prefeito de Salvador, ACM Neto (DEM-BA), ocorre à revelia do governador Geraldo Alckmin e no momento em que uma ala tucana tenta adiar as prévias paulistas da legenda para maio.

Com o adiamento das prévias, o prefeito seria forçado a deixar o cargo para entrar na disputa interna. Pela legislação, os políticos que forem concorrer nas eleições deste ano devem renunciar até o dia 7 abril.

Doria e Maia conversaram sobre a sucessão em São Paulo no avião do prefeito, durante um voo entre Rio e Salvador na terça-feira de carnaval. Ao chegar à capital baiana, eles se juntaram ao prefeito ACM Neto. Questionado sobre o encontro, Maia disse que a palavra final sobre uma eventual aliança em São Paulo será do diretório regional do DEM.

O prefeito deve almoçar no sábado com o secretário estadual de Habitação, Rodrigo Garcia, pré-candidato do DEM ao governo, e com dirigentes paulistas da sigla. A ideia é oferecer a Garcia a vaga ao Senado. Por essa configuração, o presidente licenciado do PSD, ministro Gilberto Kassab, seria o vice de Doria na chapa e o chanceler Aloysio Nunes (PSDB), o segundo candidato ao Senado. A movimentação de Doria incomodou aliados de Alckmin.

O governador tenta evitar um racha em sua base na campanha pelo Palácio dos Bandeirantes. Pré-candidato à Presidência, Alckmin não descarta convidar o vice-governador Márcio França (PSB), que deve assumir em abril o governo e disputar a reeleição, para se filiar ao PSDB e ser o candidato único da coalizão governista. Tucanos paulistas ventilam ainda a possibilidade de acrescentar uma cláusula ao estatuto da legenda que tornaria todos os detentores de cargo executivo candidatos “natos” à reeleição – ou seja, sem a necessidade de disputar prévias.

Alckmin ‘sabe falar com o povo’ e tem chances de vencer eleição, diz FHC

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) refutou, em entrevista à rádio CBN, as críticas de que não vem apoiando devidamente o pré-candidato de seu partido ao Palácio do Planalto, o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin. O ex-presidente disse que ajudou a fazer Alckmin presidente nacional do PSDB e acredita que ele tem chances de vitória nessas eleições presidenciais.

Segundo Fernando Henrique, São Paulo é um Estado em ordem e as finanças estão em dia. “Ele é um homem simples, fala de forma direta com o povo, esses são valores que podem ser transformados em voto. Por isso ele tem muita chance. E como esta é uma eleição casada, um partido como o PSDB terá peso nessa eleição “

Fernando Henrique reiterou que um candidato do mercado não vence o pleito, mas isso não quer dizer que ele não respeita o mercado “Não tem de ser o candidato do mercado, tem de ser o candidato do País para ganhar as eleições.”

Para ele, as eleições no Brasil não devem trazer nenhum nome novo. “Mas quem simbolizar a retomada de crescimento, decência e muita tranquilidade ao País, tem todas as chances de ganhar.” 

Intervenção.

Na entrevista, gravada pela CBN na tarde desta quinta-feira, dia 1º, FHC disse que a intervenção federal no Estado do Rio de Janeiro é um processo que demanda tempo. “Os militares têm conduta correta, só vão quando são chamados”, comentou.

“Há no Rio medida para garantir a lei e a ordem (GLO).O que há agora é intervenção, com as forças subordinadas ao interventor para uma transformação”, disse, emendando que é necessário esperar para ver os resultados da ação. “Isso leva tempo, não se resolve da noite pro dia. A ação tem de ser continuada, a longo prazo e feita com inteligência, se não fica só o espetáculo dos tanques nas ruas.”

“Eu disse – e fui mal interpretado – que os militares são chamados quando os governos se enfraquecem. Não posso dizer isso no caso do Rio, mas é preciso evitar o uso abusivo das Forças Armadas”. FHC ressalvou que hoje não há a preocupação que se tinha antes do governo militar, de tomada de poder.

Para o ex-presidente, o tema segurança vai permear o debate eleitoral deste ano, até mesmo porque o cidadão pobre está desprotegido. “Mas o debate não pode ser feito com demagogia. E precisamos ficar atentos para que isso não ocorra”, destacou.

 







Em 2006, Alckmin superou Lula com folga em São Paulo (Foto: Rovena Rosa/ABR)


Opinião

Editorial: Alckmin tem uma difícil tarefa de fazer um jogo de recuperação

É quase consenso que Geraldo Alckmin é o melhor nome do PSDB para concorrer este ano à Presidência da República. Evidentemente, tem aqueles que discordam, como o prefeito de Manaus, Arthur Virgílio, que chamou a prévia do partido de fraude e abandonou a disputa interna pelo posto de presidenciável. Mas, depois de Aécio Neves ter se afundado em um lamaçal, de o prefeito João Doria, aparentemente, ter se contentado com a possibilidade de sair governador e de Fernando Henrique Cardoso ter visto abortada a ideia de lançar Luciano Huck como candidato, não há às claras outra indicação tão forte nas fileiras tucanas quanto a do governador paulista.


Assim, o nome de Alckmin deve ser aclamado nas prévias presidenciais do partido, agendada para 18 de março. No entanto, se dentro da legenda a fatura é líquida e certa, fora dela o cenário ainda é muito nebuloso. E os números divulgados ontem pelo Instituto Paraná Pesquisas (IPP), que mostrou o paulista em empate técnico com Jair Bolsonaro, com intenções que variam de 20% a 23%, dependendo do cenário, é mais motivo para preocupação do que para celebração. Afinal, se quer almejar voos mais altos, o governador tem de se mostrar soberano entre aqueles que diretamente lidera.


Em 2006, quando enfrentou Luiz Inácio Lula da Silva, Alckmin superou o petista nos dois turnos, tendo um incrível desempenho de 54,2% dos votos no primeiro turno. Isso com Lula no auge de sua trajetória política. Em 2010, José Serra repetiu a dose, baixando a margem para 40,67% no primeiro turno e subindo para 54% no segundo. Em 2014, Aécio Neves perdeu nos dois turnos em Minas Gerais, seu Estado, e viu Dilma Rousseff ser reeleita.

Assim, para Alckmin não resta outra alternativa a não ser recuperar os votos que o PSDB tradicionalmente obtém em São Paulo. Ainda há muita água para rolar sob esta ponte. Mas, fazer um jogo de recuperação é muito mais difícil e desgastante do que administrar uma vantagem. No entanto, as prévias do PSDB podem finalmente lançar luz sobre o papel do governador paulista nesta que deve ser uma acirrada e imprevisível disputa presidencial.

 





Mudanças impostas pelo Estado de São Paulo prejudicaram crianças autistas (Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil)


Opinião

Ponto de vista: Desrespeito com o autista

A insensibilidade do governo estadual ao impor exigências sem diálogo prejudicou mais de 2,5 mil alunos autistas de escolas conveniadas. Ao alterar edital às vésperas do início do ano letivo, o governador Geraldo Alckmin condicionou o repasse de recursos sem garantir o devido tempo para estabelecimentos se readequarem.


As mudanças desrespeitaram e afetaram alunos, pais e unidades credenciadas. Publicado no final de janeiro, algumas escolas não puderam retomar as atividades. Entre as justificativas para melhorar a estrutura e cumprir orientação do Tribunal de Contas do Estado, ficou a dúvida sobre o propósito em cortar o atendimento às crianças especiais.


Pais, educadores e apoiadores se manifestaram contra as medidas e a interrupção de aulas e atividades multidisciplinares e pediram a revogação do decreto. Decisão da Justiça determina que o Governo garanta o transporte e pagamento às conveniadas, entre R$ 1,2 mil e R$ 1,7 mil por aluno, conforme o tempo de permanência.


São apenas 25 escolas conveniadas e o Governo não pode prejudicar o atendimento. Ninguém é contra o avanço da qualidade. Mas aulas adequadas, atividades individuais, rotina escolar e a contínua preparação de autistas para sua autonomia são fundamentais. Não podem ser interrompidas abruptamente sob qualquer pretexto.


A necessidade de educadores especializados, uniforme, alimentação, material escolar e de higiene precisa de um repasse justo. Exigir, sem contrapartida do Estado, só deixa o aluno autista desassistido. Todo tratamento tem métodos e procedimentos específicos elaborados por uma equipe multidisciplinar para o desenvolvimento progressivo.


O Governo mostra a visão rasa sobre os aspectos socioeducativos. Como sempre, apega-se às questões burocráticas para se justificar e interdita e viola direitos, sem propor um sistema educacional público e inclusivo, com o qual educação, terapias e convivência universal com as diferenças sejam garantidas a todos alunos.

*Edmilson Souza é professor de História, educador e vereador em Guarulhos

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