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Entrevista com professor da UFSCar Carlos Henrique



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Entrevista com professor da UFSCar Carlos Henrique


23/03/2015
1:08 PM
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Alfredo Henrique
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Atualizado em 23/03/2015 1:08 pm

O professor do Departamento de Botânica da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), Carlos Henrique Britto de Assis Prado, afirma que ocorrerá ainda neste ano um êxodo da Região Metropolitana de São Paulo (RMSP) para o interior  do estado e outras regiões do País, por causa da crise hídrica.

O especialista defende que a saída de pessoas para locais com água começará após a estiagem de inverno. Cidades como Araraquara e São Carlos, Itirapira e Ribeirão Preto (no interior do estado) são alguns dos municípios para os quais os migrantes poderão ir.

Prado acrescentou ainda que a despoluição da represa Billings, assim como dos rios Tietê e Pinheiros, na Capital, pode ser um caminho para minimizar os problemas. “Nenhuma crise vem para ficar. Basta fazer o que tem que ser feito para acabar com a crise.”

O docente concedeu entrevista exclusiva à Folha Metropolitana para colocar em pauta a reflexão sobre a água, que teve seu dia mundial comemorado no domingo, 22. Os principais projetos atualmente realizados por Prado são sobre as mudanças climáticas globais e também sobre grupos funcionais de espécies arbóreas do cerrado. Ele é orientador na universidade em pesquisas de graduação, mestrado, doutorado e pós-doutorado.

 

Folha Metropolitana –­ Com o colapso do sistema de abastecimento na Região Metropolitana de São Paulo, há o risco de que moradores migrem para outras localidades – realizando um “êxodo”?

Carlos Henrique Prado  – Sim, a Capital tem como uma de suas características moradores migrantes e filhos de migrantes. Muitos dos moradores da Capital de São Paulo apresentam fortes vínculos afetivos com outros locais de origem, como o Nordeste. Se a crise hídrica se agravar, essas pessoas migrarão. Além disso, há insatisfação das pessoas nascidas e criadas na Capital devido à reduzida qualidade de vida que a cidade oferece. É uma lógica fácil de acompanhar: mais uma crise (hídrica) em local de baixa qualidade, vai resultar em uma migração.

 

FM – Quando isso poderia acontecer e quais as consequências, tanto para a Região Metropolitana como para os locais onde as pessoas decidirão ir?

CH – Provavelmente isso ocorrerá de forma inicial ainda neste ano, após a estiagem de inverno. As consequências para a Capital serão uma menor arrecadação de impostos. Com menos empregos devido à falta de água, a renda coletiva diminui. Com menor oferta de água para o comércio e para a indústria, a Capital fica mais pobre.

 

FM – Quais as localidades mais “atrativas” para as “vítimas” da crise hídrica migrarem?

CH – Os locais mais atrativos são algumas cidades do interior do estado de São Paulo próximas à Capital, consideradas “refúgios hídricos” e as regiões de origem dos migrantes que moram na Capital. Devido ao apoio de familiares que os migrantes receberão, eles terão facilidade de voltar. Os locais considerados “refúgios hídricos” no interior de SP são aquelas regiões com fácil acesso ao aquífero Guarani e ainda com vantagem de estarem relativamente mais próximas da Capital (São Carlos, Itirapina, Ribeirão Preto, Araraquara, por exemplo).

 

FM – O que pode ser feito agora e o que poderia ter sido feito para evitar a atual crise vivida na região?

CH – Despoluição dos rios, principalmente Tietê e Pinheiros. Recuperação da Billings. Combate total ao vazamento da rede da Sabesp e ao “gato”. Exigência de registro de consumo individualizado em todos os condomínios verticais. Proteção maior dos reservatórios existentes com mata no entorno. Exigência de reúso da água na indústria, comércio e em condomínios verticais e horizontais com aplicação de prazos de implantação e multas. Exigência de poço de infiltração individualizado para as casas a serem construídas. Financiamento de cisternas para captação de água de chuva com juros próximos de zero para casas, comércio, indústria. Anulação dos contratos que promovem consumo de água com descontos. Construção de novos reservatórios para a Capital.

 

FM – Como o senhor avalia as medidas tomadas e não tomadas pelo Governo do Estado sobre a questão da distribuição de água?

CH – A própria Sabesp é uma das maiores consumidoras da água que distribui. Os vazamentos não foram combatidos. A multa e o bônus focou a população doméstica, os clientes com gasto maior não sofreram nenhuma pressão de redução, ao contrário, os contratos de maior gasto e menor custo foram mantidos.

 

FM – Os sistemas Cantareira e Alto Tietê são as principais fontes de água para a região. Porém há outros reservatórios, como a represa Billings, que poderiam também ser usados para distribuir água. Porém, para que isso fosse feito, seria necessário um trabalho para despoluir a represa. Isso seria viável?

CH – Sim, é viável. Há experiências de corpos de água com elevada poluição (Tâmisa e Reno na Europa) que foram despoluídos e hoje são usados para consumo, navegação e recreação.

 

FM – Despoluir o Tietê e o Pinheiros seria também um bom negócio?

CH – Sim, para o transporte e recreação, que resulta em várias outras atividades como o maior turismo. Sim, para consumo não potável ou mesmo potável dependendo do grau de tratamento da água. Por outro lado, o uso desses rios resulta no uso de suas margens para comércio e lazer, aumentando a potencialidade de bons negócios.

 

FM – O Cantareira e o Alto Tietê (reservatórios) conseguirão recuperar seus níveis registrados em um passado recente?

CH –  Dificilmente. As previsões não são de aumento da precipitação além do normal para 2015, ou mesmo nos anos seguintes. O consumo poderá ser reduzido, mas isso não será suficiente.

 

FM – A crise veio para ficar?

CH – Não, nenhuma crise vem para ficar. Basta fazer o que tem que ser feito para acabar com a crise.

Retirada – Para professor Carlos Henrique, migração é bem possível (Foto: Divulgação)



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