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Entrevista com Bruno Maia



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Entrevista com Bruno Maia


09/03/2015
10:41 AM
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Deisy de Assis
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Atualizado em 09/03/2015 10:41 am

Durante o mês de março, por conta do Dia Internacional da Mulher, celebrado ontem, os debates em torno do gênero feminino são extensos, passando por áreas como cidadania, trabalho, sexualidade e combate à violência. Os temas estão entre os comentados para o Metrô News pelo filósofo e pesquisador Brunno Almeida Maia, especializado em gênero, sexualidade e diferenças pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP).

Um dos principais argumentos do filósofo está relacionado à Educação. Maia defende a inclusão do direito da mulher na grade curricular, nas diferentes fases do ensino. No que diz respeito à legislação, para o especialista a equiparação das leis que protegem a mulher, como as de Direitos Humanos, é uma necessidade, cuja aplicação é crucial para a verdadeira mudança de visão das questões de gênero na sociedade atual.

Para Maia, a participação da mulher na política é outra lacuna a ser preenchida, uma vez que mesmo com uma figura feminina a frente do País, a presença da mulher neste cenário ainda é consideravelmente pequena. Segundo o filósofo, a conquista de mais espaço para elas nos cargos políticos permitirá a articulação de novas políticas públicas para mulheres.

 

Sensibilização - Maia acredita em conquista da mulher na política (Foto: Luciana Zacarias)

Sensibilização – Maia acredita em conquista da mulher na política (Foto: Luciana Zacarias)

 

Metrô News – Muito se fala da emancipação da mulher. Como você vê essa emancipação ao longo das décadas?

Bruno Maia – Houve mudanças consideráveis ao longo das últimas décadas para as mulheres. Entretanto, menos do que se pensa. Por exemplo, na América Latina, temos três mulheres à frente de seus países. Porém, ainda assim, de maneira geral, não temos um cenário de equidade de gênero em diversos aspectos, como na política, nas relações familiares e também no mercado de trabalho.

Você acha que, nos últimos anos, houve uma estagnação no processo de conquistas femininas, comparado ao que as mulheres alcançaram décadas atrás?

Não, não acredito nisso. Na verdade, prefiro não falar em avanço ou estagnação, acho que não seriam essas as palavras. O que penso é que há muito que se mudar na sociedade para a igualdade de gênero ser uma realidade. E me refiro aos diferentes campos de atuação e posições sociais da mulher, desde as relações familiares.

Você acredita que hoje o preconceito contra a mulher acontece de uma forma velada e que, por isso, é mais difícil de identificá-lo e combatê-lo?

Há manifestações discriminatórias encravadas na nossa sociedade. Isso é complexo, pois se criou uma imagem de mulher “ideal” ao longo da história, que se diversifica de acordo com costumes, geografia, épocas. A luta das mulheres já modificou muita coisa nesse sentido, mas há sim um preconceito silencioso, que requer maior percepção para que se elimine da sociedade. Isso só se dará de verdade com a sensibilização para as dicussões de gênero na sociedade.

Você falou em sensibilização. De que forma se daria isso?

Acredito que equiparando as leis de proteção das mulheres às de Direitos Humanos, ou seja, com a sociedade dando o mesmo tratamento a ambas. Outra forma é a modificação da educação formal, levando para a rotina em sala de aula a reflexão crítica e a construção de ideias sobre mulher, gênero e sexualidade, dentro do âmbito de Direitos Humanos.

Que políticas públicas são necessárias para promover uma sociedade mais equânime?

Com a criação de mecanismos para essa visão humanista; fazendo essa modificação na grade curricular da educação formal e levando a pauta de gênero de forma correta também à imprensa, que tem maior alcance do povo e interfere na formação de opinião. Outra lacuna a ser eliminada é a ausência de um mapeamento da violência contra a mulher e mecanismo de acolhimento que o combate de reincidências. Enfim, essas são algumas medidas que podem fazer muita diferença para elas.

O que você acha da posição da mulher no mercado de trabalho?

Injusta. Vemos mulheres com salários inferiores aos dos homens que ocupam os mesmos cargos, por exemplo. E há situações vexatórias, como tratamentos que inferiorizam as mulheres, ao passo que elas são capacitadas, são maioria nas universidades e estão muito presentes no mercado de trabalho, por mérito delas.

E no cenário político?

Está aí um campo que me preocupa, pela pequena presença feminina. Seja no Legislativo ou no Executivo. Temos uma mulher na presidência, mas não vemos mulheres assumindo governo de Estados, Prefeituras, enfim, a política é predominantemente masculina. É preciso que elas se disponham mais a candidaturas e que, com essa sensibilização da sociedade, elas sejam eleitas. Com maior atuação política, as mulheres farão mais pela equidade de gênero.

A mulher se inseriu no mercado de trabalho e participa do orçamento da casa. Porém, acumula as tarefas domésticas, a maior responsabilidade com os filhos. Qual sua opinião sobre esse acúmulo de funções?

A construção histórica levou a isso e, por isso, a luta é maior para alterar essa realidade. Elas são criadas assim, como se tivessem obrigação, como se ser essa figura que se sobrecarrega fosse uma missão. O homem consegue escolher o que fazer, a mulher pode até escolher ser uma profissional, ter uma carreira, mas sempre é a dona de casa e a cuidadora da família concomitantemente. Mais uma vez falo de sensibilização da sociedade para que isso se modifique.


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