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Barracas de rua se espalham por São Paulo



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Barracas de rua se espalham por São Paulo


23/03/2015
1:15 PM
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Eurico Cruz
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Atualizado em 24/03/2015 10:11 am

Para se defender das chuvas e se manter abrigados com certa privacidade, moradores de rua tem optado pela ‘construção’ de barracas em calçadas e praças que se espalham por toda São Paulo. O último censo divulgado sobre a quantidade de pessoas em situação de rua, feito em 2011, constatou que 14.478 pessoas vivem nessas condições.

Roberto Paniagua Moreira, mora na rua desde que saiu da cadeia em 2006. Aos 19 anos morava em Mauá, quando foi preso em um assalto ao banco Noroeste. Sem achar os pais e sem conseguir se aposentar por invalidez, Moreira vive em uma das mais de 100 barracas improvisadas com cavaletes de políticos e outros materiais na Avenida Pires do Rio, no Belém (Zona Norte).

“Eu queria uma condição de vida. Quando a gente é novo tem uma mentalidade. Se eu tivesse a cabeça que tenho hoje não teria ido por esse caminho”, relatou Roberto.

Em alguns lugares a situação é um pouco mais trágica. Nas margens da Marginal do Tietê, próximo ao Shopping D, a realidade dos moradores de rua é mais tensa. Travestis e usuários de drogas faziam o almoço com o que foi recolhido das sobras e da pele de frango de um fim de feira próximo.

As moscas são uma companhia constante dos alimentos. Pelo menos 15 pessoas estavam reunidas na expectativa do almoço. Alguns deles reconhecem vícios e se dizem insatisfeitos com a situação deplorável em que vivem.

Uma moradia – O último censo apontou que 14.478 pessoas vivem abrigadas em barracas nas ruas de São Paulo; uma solução paliativa para quem não tem mais a quem recorrer (Foto: Silvio Cesar)

Secretaria diz que atua diariamente nos locais

A Secretaria Municipal de Assistência e Desenvolvimento Social (SMADS) disse em nota que aborda diariamente moradores de rua por meio de orientadores sociais do Serviço Especializado de Abordagem Social (SEAS).

“Com a finalidade de promover o retorno ao convívio da família, o trabalho desenvolvido pelos orientadores é socioeducativo e consiste na identificação, aproximação, escuta e encaminhamento, de  quem aceita, para a rede de proteção social, como Centros de Acolhida”, diz a nota.

A Smads ressalta que todos os moradores de rua são convidados a ir para os albergues. Atualmente, a rede sócio-assistencial é composta por 70 Centros de Acolhida que juntos disponibilizam cerca de 10 mil vagas para pernoite além dos espaços para convívio, banho e alimentação durante o dia.

Foto: Silvio Cesar

Padre defende pequenos núcleos de convivência

Para o padre Júlio Renato Lancellotti, da Pastoral do Menor e do Povo de Rua da Arquidiocese de São Paulo, há um grande problema habitacional e de autonomia, já que a maioria das pessoas que vivem na rua não aceitam ir para os albergues por conta das regras e do controle do governo.

“Por isso não deveria ser um albergue, deveriam ser pequenos núcleos de convivência, onde seja possível autogestão. Desse jeito nós revogamos o livre arbítrioe, porque é uma sociedade autoritária que não acha que são capazes de gerir a própria vida”, disse o padre.

Ele afirmou também que a maioria da população quer simplesmente que os moradores de rua desapareçam, não importa como, e disse que os considera como refugiados urbanos. “A situação está complicada também pela crise hídrica, pela falta da água nos equipamentos sociais.”

Foto: Lucas Dantas



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