É cada vez maior o número de homens que recorrem à vasectomia como medida contraceptiva. Em 2004, de acordo com dados do Ministério da Saúde (MS), foram realizados 14.201 procedimentos do tipo no Sistema Único de Saúde (SUS). O montante é ainda mais significativo, uma vez que grande parte das cirurgias é realizada nas instituições privadas. Na direção contrária, também se percebe que é cada vez mais significativo o número daqueles que passaram pelo procedimento e se arrependeram. Quando isso acontece, o jeito é voltar para a sala de operação e se submeter a uma cirurgia de reversão.
A vasectomia é um procedimento cirúrgico simples, que já é realizado há mais de 100 anos, e é destinada a provocar a infertilidade masculina. Com ela, faz-se uma secção nos canais deferentes de modo a impedir que os espermatozóides, que são produzidos nos testículos, passem para a uretra e sejam expelidos na ejaculação. Dados relativos aos Estados Unidos dão conta de que 6% dos homens norte-americanos que se submetem a ela se arrependem. No Brasil, não existem dados nesse sentido, mas, trabalha-se com a idéia de que o cenário por aqui não seja muito diferente do de lá.
De acordo com Marjo Cardenuto Perez, chefe do serviço de urologia da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo, o arrependimento é menos comum quando o paciente é bem orientado e selecionado. “Como regra, a vasectomia só deve ser indicada para pessoas com mais de 25 anos e que tenham pelo menos dois filhos. Outro ponto importante: o procedimento só deve ser feito três meses depois que a pessoa tomou a decisão”, explica. Segundo ele, o médico deve fazer uma entrevista demorada com o paciente, por meio da qual o especialista abordará os motivos que o levaram a tomar tal decisão.
Em geral, o motivo é a convicção de que o casal não quer mais ter filhos. No entanto, nos dias atuais, é cada vez mais freqüente o casamento acabar em separação e, conseqüentemente, em um segundo casamento. O desejo de reversão da vasectomia está diretamente associado ao número de separações. Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apontam que, em 2005, aconteceram 100.448 separações judiciais e 150.714 divórcios, o que representou um acréscimo de, respectivamente, 7,4% e 15,5% em relação ao ano anterior.
A morte de um filho também é um dos motivos que devolvem ao homem vasectomizado o desejo de ser fértil. Nesses casos, duas cirurgias ajudam a realizar esse sonho. A primeira tem o nome de vasovasostomia. A outra, vasoepididimoanamastomose. Segundo Marcelo Vieira, urologista do Hospital Samaritano, ambas representam a mesma coisa, diferenciando apenas por detalhes técnicos. “Tratam-se de técnicas de microcirurgia, em que se busca reunir os canais deferentes do testículo, que haviam sido previamente seccionados com a vasectomia, impedindo a passagem dos espermatozóides. O que muda é o local onde é feita a anastomose (conexão cirúrgica)”, explica o médico.