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20/04/2007
“Batismo de Sangue” mostra o vínculo entre fé e revolução


Filme, baseado no livro de frei Betto, apresenta a ditadura militar a partir da história de frei Tito



Estréia hoje “Batismo de Sangue”, filme de Helvécio Ratton com base no livro homônimo de frei Betto. Ratton é o mesmo diretor de “O Menino Maluquinho” e “Uma Onda no Ar”, o último sobre jovens de Belo Horizonte (MG) que criam uma rádio comunitária. Agora, a temática é outra: trata-se de um resgate de parte da memória da repressão durante o regime militar brasileiro.

O protagonista do longa é frei Tito, interpretado por Caio Blat. Trata-se de um dominicano que apoiou o revolucionário Carlos Maringhella (Marku Ribas), e, por essas e outras, acabou sendo preso e torturado nos porões do DOI-Codi (Destacamento de Operações de Informações – Centro de Operações de Defesa Interna), órgão de repressão da época, e se mata. Está contado o final do filme? Nem um pouco, uma vez que ele começa pelo fim, quando o religioso avança por uma floresta, visivelmente perturbado. O espectador abre os olhos para uma tragédia iminente. Ele se enforca.

A partir daí, por meio de flashbacks desenvolve a idéia dos frades dominicanos que embarcam no ideal revolucionário dos anos 1960, que, com o fim de ver um Brasil mais justo, dão apoio à guerrilha urbana. O horror da repressão é encarnada pelo delegado Sérgio Fernando Paranhos Fleury, o implacável torturador, vivido por Cássio Gabus Mendes. É um filme brutal. As cenas de tortura são de um realismo próximo ao de Mel Gibson em “A Paixão de Cristo”. Ratton não teve medo de pesar a mão. Queria fazer algo para o público jovem. Ficou gratificado quando um deles, em um debate, lhe agradeceu por haver mostrado um Brasil que não conhecia. “Achava que aqui tinha sido mais light, que a violência tinha sido no Chile, na Argentina”, disse o garoto.

“Batismo de Sangue” é apenas um ínfimo retrato dos anos de chumbo brasileiros. Outros trechos dessa história são contados em filmes recentes que também trataram do período, como “Cabra Cega”, “Zuzu Angel” e “O Ano em que Meus Pais Saíram de Férias”. A história do próprio Ratton sofreu influência de fatos ocorridos durante a ditadura militar. Quando jovem, exilou-se no Chile e lá começou a fazer cinema. No fundo, o diretor sempre teve o desejo de contar a história de sua geração.

Era um desejo meio difuso, até que, em 2002, Frei Betto relançou o livro “Batismo de Sangue” e lhe enviou um exemplar da obra com uma dedicatória com teor de provocação – “Coragem!”. Ratton releu o trabalho e descobriu que continha de tudo: política, uma juventude utópica, violência, tortura, ação. Imaginou, então, que o livro daria um grande thriller de cinema. E foi com esse olho que ele fez o filme.


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